A economia circular no Brasil está ganhando cada vez mais atenção como um modelo de desenvolvimento sustentável que alia crescimento econômico, preservação ambiental e geração de empregos. Diferente da economia linear, baseada na extração, produção e descarte, a economia circular propõe que recursos naturais permaneçam o maior tempo possível em uso, por meio de práticas como reciclagem, reuso, reparo e remanufatura. O país, com sua biodiversidade e riqueza de recursos, tem um potencial expressivo para se tornar referência internacional neste modelo.
Durante esta semana, São Paulo sediará o Fórum Internacional de Economia Circular, o primeiro na América Latina, reunindo especialistas e representantes de diversos setores. O evento reforça a relevância da economia circular no Brasil como um tema estratégico e urgente. O fórum será um ponto de partida para estabelecer parcerias, políticas públicas e ações corporativas que ajudem a integrar práticas circulares nas cadeias produtivas nacionais, promovendo inovação e eficiência econômica.
Estudos indicam que a economia circular no Brasil pode reduzir perdas econômicas bilionárias com resíduos não aproveitados. O país gera anualmente cerca de 81 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, sendo mais de 30% potencialmente recicláveis. No entanto, menos de 10% desses resíduos são efetivamente reciclados. Isso representa uma perda estimada de 14 bilhões de reais por ano, além do agravamento da poluição e da sobrecarga em aterros sanitários.
A adoção mais ampla da economia circular no Brasil não só ajudaria o meio ambiente, mas também poderia criar até 7 milhões de empregos até 2030, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Setores como reciclagem, logística reversa e remanufatura têm grande capacidade de absorver mão de obra e gerar renda. Além disso, práticas circulares têm se mostrado vantajosas para as empresas em termos de competitividade, com redução de custos operacionais e maior eficiência no uso de recursos como energia e água.
Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria, seis em cada dez indústrias brasileiras já adotam algum tipo de prática circular. A mais comum é a reciclagem, presente em 34% das empresas, seguida por serviços de reparo e uso de insumos reciclados. Esse movimento mostra que a economia circular no Brasil começa a sair do discurso e ganhar corpo dentro das práticas empresariais. Ainda assim, especialistas destacam que é necessário ampliar a escala e garantir que essas ações sejam integradas e contínuas, não apenas pontuais.
Outro ponto crucial é pensar a economia circular no Brasil de forma sistêmica, desde o início da cadeia produtiva. Não basta apenas reciclar o que foi descartado, é fundamental repensar o design dos produtos, seus materiais, durabilidade e possibilidades de reaproveitamento. Isso exige envolvimento das empresas, mas também do governo, com políticas públicas que estimulem a inovação, a logística reversa e a tributação diferenciada para produtos sustentáveis. A transição precisa ser liderada por articulação entre diferentes setores da sociedade.
Exemplos bem-sucedidos já existem no país, como o aproveitamento da cera de carnaúba para conservar frutas, desenvolvido pela Embrapa. Esse projeto é um exemplo prático de como a economia circular no Brasil pode combinar conhecimento tradicional com ciência moderna para reduzir o desperdício. Cadeias produtivas como a do pirarucu na Amazônia ou da cana-de-açúcar no Sudeste também mostram como é possível aplicar a circularidade sem perder produtividade, criando valor com sustentabilidade.
Com a aprovação recente do Plano Nacional de Economia Circular, o governo dá um passo importante para consolidar diretrizes e metas para os próximos dez anos. A economia circular no Brasil tem tudo para ser um vetor de reindustrialização verde, transformando o país em um polo de referência em práticas sustentáveis. Mas o sucesso dessa transição dependerá de infraestrutura adequada, segurança jurídica, incentivos fiscais e sobretudo de uma visão estratégica de longo prazo que una preservação ambiental com prosperidade econômica.
Autor: Smirnova britovitzk